Le Masque
Descrição
A Máscara quando nasceu, nasceu já associada ao Sagrado: no Mundo Pré-Helénico Integrava os rituais de Invocação do transcendental e do mítico, começou por ser arte corporal com a aplicação de mosto de vinho e outros corantes no rosto e no corpo dos dançarinos que, com cânticos e com danças propiciadoras, se induziam em transe profundo, abrindo aventurosos caminhos sempre insuspeitos de materialização e de incorporação às Entidades Superiores que vinham ao convívio estreito com os mortais, fazendo partilha do seu Tempo e da sua Dimensão, de mãos dadas e no mesmo plano existencial do dos humanos. Estes cultos são-nos ainda hoje quase totalmente indecifráveis, fazendo-nos reportar à Noite dos Tempos, aurora do Homem Clássico e Helénico. O Ditirambo (categoria literária que, em termos gerais, se aplica às composições poéticas que expressem desordem, desorganização, desregramento emocional e expressivo – isto é, transe poético – e que, em termos formais, possuam irregularidade nas estâncias e flexibilidade ímpar na métrica…), como género, foi talvez o mais antigo e mais popular entre os Gregos e passou a designar (ainda antes do Séc. VIII A.C.) uma forma de hino triunfal em louvor do deus Dionísio, Senhor do Vinho, da Embriaguez e das Orgias. Assumiu forma literária com Ario de Metimnes, no Séc. VIII A.C., fixando-se como canto dos adoradores de Dionísio (os Coreutas, ou Coristas, porque formavam um Coro) que, nas danças e cânticos em torno do altar do deus, usavam grandes Máscaras feitas de diversos materiais, de contornos indecisos e feições grotescas e muito indefinidas, usadas como engenhos para ampliar e projectar as vozes. Muitos foram e são os que consideram o Ditirambo como percursor da Tragédia, sabendo-se hoje que esta se originou nos cultos dionisíacos e que muitos dos seus cantos eram ditirâmbicos. Foi a Tragédia que tornou o uso da Máscara imprescindível. Os Romanos recusaram-se sempre a adoptar e a imitar o Ditirambo na sua própria (e próspera) Literatura. Mas a Máscara servia os seus propósitos imperiais às mil maravilhas. A sua designação latina era Persona e já que a Arte e a Cultura Romanas, bem ao contrário das Gregas, tendiam a retratar com muito realismo, a particularizar e a definir com precisão os representados e os seus traços de carácter, imprimiram-lhe esses cuidados de pormenor, criando-se, assim… as Personagens!… Fazendo-o, talvez se tenha criado o Teatro tal como hoje ainda o conhecemos: reflexo da Alma Humana e das suas eternas contradições, relação do Homem com o outro e com o Outro, registo do fervilhante entrecruzar de Destinos…umas vezes enlaçados, muitas vezes desunidos… e a Existência, como tal, sempre envolta no mais profundo Mistério…
Américo Carneiro.
Autores
Américo Carneiro
Data
11/08/2017 a 01/09/2017